segunda-feira, 12 de julho de 2010

O GRITO DO SILÊNCIO

Finalmente actualizo o blogue.

Andei demasiado tempo com pouco tempo, se me é permitida a repetição de termos. E continuo assim um pouco, mas já que hoje tirei o dia para mim e para não fazer nada, por ordem do meu corpo, que me disse em altos berros que tem limites, não desperdiço a oportunidade de cá vir.

Neste tempo de ausência muita coisa se passou, alguma de relevo, o resto nem por isso. Mas se é possível, o meu gosto pela Astronomia aumentou mais um bocadinho. Não que tenha feito muito por isso, mas porque isso é algo que se entranha sozinho... É impossível olhar para o Céu, compreendê-lo e não ficar apaixonado por ele. É demasiadamente belo e cativante.

E numa fase da minha vida em que dou novo rumo a mim mesmo, dedicando-me cada vez mais a cada vez menos, seleccionando Aquilo e Quem me interessa a valer, a Astronomia tem lugar mais que reservado na minha vida presente e futura.

Quem nunca olhou para o Céu ao amanhecer não faz a mais pequena ideia do que perde.
Quem diz que as cores do anoitecer são iguais às do amanhecer não faz a mais pequena ideia do que diz.

Tenho passado imensas noites quase em claro. E só é quase porque ainda me deito um pouco quando a Terra acha que já rodou sobre si mesma o suficiente para mostrar o Sol a Este, e as suas cores vivas e brilhantes já se começam a tentar sobrepôr às cores misteriosas mas reveladoras da noite. E nessa altura, quem conseguir descortinar Aldebaran a mostrar por que motivo é uma Estrela Real vai cair aos seus pés. Aquela tonalidade vermelha num fundo azul escuro é qualquer coisa de arrebatador.

O jogo de cores do Céu é fascinante! Ai, pobres mentes que pensais que o Céu é preto e branco! E tanto que as cores nos dizem sobre os Nossos Astros!

Mas e antes de Aldebaran, quando aparece Capella com o seu brilho ofuscante? Que saudades tinha eu de a ver de madrugada! Da janela do meu quarto tenho o privilégio de ver o céu de Nascente. Sei que se for agora à janela, Capella vai estar presente, a dar-me as boas noites, e a recordar-me que não estou sozinho a estas horas absurdas em que só os noctívagos se sentem confortáveis.

Preciso urgentemente de tirar o meu telescópio da caixa e dar-lhe o devido uso. Preciso daquelas noites no meio do campo, em que só se ouvem os grilos, os lacraus e o silêncio.


O Silêncio.


Sou um tipo esquisito. Como disse há pouco tempo a outras pessoas, noutro contexto, sou um tipo esquisito, com gostos muito particulares, com opções muito próprias, com uma forma de ver a vida extremamente binária, absolutamente física, com uma lógica booleana em que só conheço o "0" e o "1". Por isso mesmo, por ser diferente, não espero ser compreendido por todos. Não tenho esse direito, o de exigir algo quando eu próprio sou intolerante com muitas outras coisas. Mas os supostos tolerantes são incompreensivos para quem o é com eles. E digo isto porquê?

Porque poucas pessoas dão valor ao Sr. Silêncio como eu dou. E também por isso sou diferente. O Silêncio é a melhor música em imensas ocasiões. Gosto de techno, gosto de rock, gosto de pop, gosto de muita música barulhenta... mas tudo tem os seus momentos. Um bom Silêncio é inspirador e vibrante, pode ser inclusive a companhia ideal para muitas horas. E insisto comigo mesmo, digo isto porquê?

Simples.

Experimentem olhar para o Céu, contemplá-lo, admirá-lo, com muita gente à volta. Depois experimentem fazê-lo sozinhos ou com quem respeita as vossas convicções. Está feita a explicação...

Sei que este post pouco tem a ver directamente com Astronomia, mas quando há algum tempo decidi dar um novo rumo a este espaço, prometi a mim mesmo que não me iria reger por regras. Por outras regras que não as que o meu espírito de Senhor das Estrelas me impusesse.

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