sábado, 25 de setembro de 2010

HISTÓRIA DA ASTRONOMIA - De Revolutionibus

O Commentariolus era suposto ser um manifesto contra a visão da Astronomia vigente na época, e talvez por isso teve pouca repercussão na Europa pensante da época. Para provar que as suas previsões acerca do Universo estavam certas, Copérnico passou os 30 anos seguintes a refazer este documento, até o tornar um bem documentado manifesto de 200 páginas, com muito mais rigor matemático do que o primeiro.
Por várias vezes, pensou em abandonar a sua investigação, com medo de ser ridicularizado, e tinha motivos. Pouca gente acreditava nele, e Martinho Lutero chegou a dizer:
"Fala-se de um novo astrónomo que quer provar que a Terra se move e anda à volta, em vez do Céu, do Sol e da Lua, como se alguém que se movesse numa carruagem ou barco dissesse que estava na realidade parado e em repouso enquanto o chão e as árvores caminhavam e se moviam... O tolo quer virar toda a arte astronómica de pernas para o ar."
O tolo não era Copérnico...
E é aqui que entra Rheticus, um jovem alemão que nutria grande admiração pelo trabalho de Copérnico e o convenceu a deixar levar o seu manifesto para ser impresso, o que acontece em 1543. Contudo, um ano antes, Copérnico tinha sofrido uma hemorragia cerebral e estava já privado de muita da sua lucidez, acabando por ver o resultado do seu trabalho no último momento antes da sua morte.
De Revolutionibus Orbium Coelestium (As Revoluções dos Orbes Celestes) oferecia ao mundo vários argumentos em favor da teoria de Aristarco, mas apresentava 2 grandes mistérios.
Primeiro, o não agradecimento a Rheticus, que poderá ser entendido como uma tentativa de não melindrar a castradora mentalidade da Igreja Católica de então, mas que afastou Rheticus desta obra.
Segundo, o surgimento misterioso de um prefácio que se suspeita não ter sido escrito de origem, pois admite que os cálculos podem ter sido manipulados por conveniência. Classifica certos cálculos de "absurdos", e diz que a teoria de Copérnico "não tem de ser verdadeira, ou mesmo provável". Ora, não faz sentido que, após tanta luta, Copérnico fosse acabar por ceder no momento da publicação da obra, até porque no ainda existente manuscrito original, Copérnico escreve:
"Talvez apareçam tagarelas que, apesar de completamente ignorantes em matemática, se encarreguem de dar opiniões em questões matemáticas e, distorcendo gravemente algumas passagens da Escritura de acordo com os seus propósitos, se atrevam a encontrar falhas no meu trabalho e a censurá-lo. Ignoro-os ao ponto de desprezar as suas críticas como infundadas."
Um bocado diferente, não?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

HISTÓRIA DA ASTRONOMIA - o heliocentrismo

E eis que chega o abençoado Nicolau Copérnico. Para sermos precisos, Mikolaj Kopernik, visto que ele é de origem polaca.

Usando de um brilhante conjunto de deduções lógicas e sem medo de arriscar dar um salto qualitativo ao nível do pensamento, Copérnico tentou revolucionar mentes com a verdade de ser a Terra a mover-se em torno do Sol e não o contrário. Mas ele era pouco conhecido e facilmente foi desacreditado, até porque o modelo heliocêntrico ainda apresentava imprecisões que beneficiavam o complicadíssimo modelo de Ptolomeu e, tal como disse, era um completo desafio de lógica. Como se já não fossem problemas suficientes, a ortodoxia religiosa e científica reprimia o pensamento original, e as novas ideias tinham um bloqueio natural só por existirem, e logo à nascença.

Copérnico, como astrónomo amador (título que eu próprio me orgulho de ostentar!), estudou os movimentos dos Planetas e, antes de saber que o seu trabalho seria desacreditado na época mas valorizado mais tarde, elaborou um manifesto de apenas 20 páginas, que chocou o mundo científico, que se sentiu abalado pela sua visão (correcta!) do Cosmos. Esse manifesto chamava-se Commentariollus (Pequeno Comentário), foi escrito à mão, e circulou pela mão de pouquíssimas pessoas por volta do ano de 1514.

No Commentariollus, Copérnico defende a sua tese com base em 7 axiomas:
  1. Os corpos celestes não têm um centro comum;
  2. O centro da Terra não é o centro do Universo;
  3. O centro do Universo está perto do Sol;
  4. A distância entre a Terra e o Sol é insignificante quando comparada com a distância às estrelas;
  5. O movimento diário aparente das estrelas é o resultado da rotação da Terra sobre o seu próprio eixo;
  6. A sequência anual aparente de movimentos do Sol é o resultado da translação da Terra à volta do Sol; todos os planetas giram em torno do Sol;
  7. O movimento retrógrado aparente de alguns planetas é explicado meramente pela nossa posição como observadores numa Terra móvel.

Parto daqui no próximo post...

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Hoje fiquei maravilhado com a visão do Céu. O que tinha de especial? Tudo e nada.
Nada, porque estava belo como sempre.
Tudo, porque a simplicidade do brilho das Estrelas me arrasa. Eram tantas e tão brilhantes... É um privilégio ter Vega, Deneb, Altair, Betelgeuse, Rigel, Capella, Procyon e Sírio no mesmo Céu, sempre tão bem acompanhadas por um imponente Júpiter. E estas são só as detentoras dos papéis principais, porque Alnilam, Alnitak, Mintaka, Menkalinan, Tarazed e tantas outras são excelentes candidatas ao Óscar de melhor papel secundário...

Amo o Céu de Inverno, e basta olhar para Ele!

Como dizia Dante: "Os céus giram sobre ti mostrando-te as suas eternas glórias, mas os teus olhos limitam-se a fitar o chão."

Não perca tempo, contemple a beleza que se expõe diante de si...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

HISTÓRIA DA ASTRONOMIA - epiciclos

Ao ver-se confrontado com dificuldades ao explicar os movimentos retrógrados dos Planetas, Ptolomeu arranjou uma solução, mas pelo método errado. Em vez de estudar os factos e arranjar uma explicação para eles, arquitectou uma forma de responder ao problema encontrado, sem se preocupar com a sua veracidade. E chegou a uma solução, no mínimo... curiosa.

Engendrou um complicadíssimo sistema de círculos sobre círculos que pudesse justificar as observações. De facto, as observações confirmavam esse modelo, mas se se pensasse um pouco mais, se calhar iriam arranjar-se milhentas outras formas de o fazer. Melhor dizendo, era um modelo que explicava as observações, mas as observações não provavam o modelo.

Mas em que consistia?
Basicamente, tudo se justificava com base nos círculos. As órbitas dos Planetas eram circulares, com a Terra no centro. Os teológos encorajaram esta teoria, uma vez que estava de acordo com a Bíblia. Com a leitura que eles faziam da Bíblia, acrescento eu. Aliás, a Bíblia não é feita para se ler ipsis verbis o que lá está, mas sim para se entender todo um conjunto de símbolos que ela representa. Mas isso são contas de outro rosário... Mostro uma imagem representativa deste modelo que Ptolomeu arranjou. Eu ia dizer alucinou, mas vou respeitar as suas ideologias...

Tentando explicar... Todos os Planetas fariam a sua órbita sobre um círculo imaginário cujo raio seria considerado o deferente, e efectuando a sua trajectória na forma de pequenos círculos sobre si mesmo, chamados epiciclos. Ora, os raios do deferente e as velocidades de cada epiciclo podem ser ajustados de forma a ajustar a trajectória de cada Planeta... isto é arranjar um modelo e encaixá-lo de qualquer maneira na observação prática...

Para que o seu pseudo-modelo explicasse todas as observações, Ptolomeu introduziu o excêntrico e o equante, pontos imaginários. O excêntrico era um ponto imaginário próximo da Terra, que seria o verdadeiro centro do deferente. O equante era outro ponto imaginário, cuja influência contribuiria para a velocidade variável dos Planetas. Confuso/a? Não me espanta, eu tive de ler várias vezes coisas acerca disto para perceber. Mas não se preocupe, vou ter pena de si e não vou desenvolver este tema. Fica só uma imagem, para uma tentativa de explicação.

(Na imagem falta um x no excêntrico, mas não reparem...)

No próximo post caio na realidade de novo, e tropeço no heliocentrismo.