segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

UM NOVO LOOK

Fiz uma remodelação no look do blogue.
Tentei modernizá-lo um pouco, pois ainda estava a usar a sua configuração original.

Gostava muito de receber o vosso feedback. E, já agora, de conseguir a atenção de mais leitores.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

VOYAGER 1 SEMPRE A MARAVILHAR


SONDA VOYAGER 1 "ENCONTRA" ESPAÇO NO FINAL DO SISTEMA SOLAR


Animação da Voyager feita pela NASA

A sonda norte-americana Voyager 1, no espaço há 35 anos, está já de «saída» do sistema solar, para se transformar no primeiro aparelho humano a entrar no espaço interestelar.

De acordo com a NASA, a sonda, que está a 18,5 mil milhões de quilómetros do sol, indica que está numa «autoestrada magnética» através da qual partículas altamente carregadas de energia do espaço interestelar entram no sistema solar e partículas com pouca energia saem do mesmo sistema, explicaram os cientistas a cargo da missão. Esta é uma nova área do espaço, dentro do sistema solar, que os cientistas não esperavam encontrar.

«Acreditamos que se trata da última etapa da Voyager 1 antes de entrar no espaço interestelar. Segundo as nossas estimativas, a Voyager 1 poderá sair do sistema solar no prazo de dois meses a dois anos. Esta nova região não é como esperávamos, mas já aprendemos que, com a Voyager, é preciso estar preparado para o inesperado», disse Edward Stone, responsável do projeto no Instituto de Tecnologia da Califórnia, Caltec.

Duas sondas Voyager lançadas em 1977, com um mês de intervalo, continuam em bom estado e em funcionamento. A Voyager 2 está atualmente a 15 mil milhões de quilómetros do Sol e as duas já passaram por Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno.

Os dados obtidos pelos nove instrumentos a bordo de cada uma das sondas fizeram desta missão a mais bem-sucedida da história da exploração do sistema solar: revelaram numerosos detalhes dos anéis de Saturno e permitiram descobrir os anéis de Júpiter. Também transmitiram as primeiras imagens precisas dos anéis de Urano e de Neptuno, descobriram 33 novas luas e revelaram atividade vulcânica em Io.

Fonte: http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=368305

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Não podia deixar de partilhar convosco esta notícia...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

PORQUE É QUE O CÉU É... CINZENTO?

E termino hoje esta série de posts. Acho que não falta falar de mais cor nenhuma, que seja possível encontrar no Céu...
Os princípios básicos são sempre os mesmos, pelo que não vale a pena explicar novamente os conceitos.

Pois bem, porque é que de vez em quando o Céu se torna cinzento?
Normalmente é sinal de chuva... ou, no mínimo, de nuvens. Vejamos.


A cor de uma nuvem revela a sua composição.
Grosso modo, pode dizer-se que uma nuvem adquire uma tonalidade cada vez mais cinzenta escura, quanto mais "carregada" está. Quanto mais propícia a converter-se em chuva a nuvem se torna, vai passando do branco para cinzento claro, escurecendo progressivamente.
Para perceber este fenómeno, temos primeiro de perceber o motivo de uma nuvem ser branca.

Quando as gotas de vapor de água presentes numa nuvem são muito pequenas, ficam extremamente condensadas. Isso faz com que a luz solar tenha imensa dificuldade em penetrar pela nuvem, sendo a maior parte refletida para o Espaço. Isso dá a tonalidade branca às nuvens, especialmente quando são vistas de cima.
Quando as gotas de água que ela contém vão aumentando progressivamente de tamanho, o que deixa cada vez mais espaço entre elas para a luz do Sol poder penetrar pela nuvem. Neste processo de acumulação de gotas pequenas para gotas cada vez maiores, uma maior percentagem da luz que entra na nuvem fica "presa" e não é refletida, antes de ser absorvida.
Como exemplo, basta pensar que se vê a uma maior distância em situações de chuva intensa do que em momentos de nevoeiro cerrado.

Ainda duas pequenas notas sobre a coloração das nuvens, que talvez até possam ajudar a quem ler este texto a prever um pouco o estado do tempo:
  1. Quando uma nuvem apresenta um tom cinzento azulado, isso significa que o espalhamento (tantas vezes referido em posts anteriores...) está a ser provocado por gotas do tamanho de gotas capazes de provocar chuva.
    Explicação física: o azul está num extremo do espetro do visível. Os raios de menor comprimento de onda são mais facilmente espalhados por gotas do tamanho das gotas de água, pelo que o tom azulado pode significar chuva iminente.


  2. Quando uma nuvem apresenta um tom cinzento esverdeado (tipicamente uma cumulonimbus), é muito provável que se esteja a aproximar uma temporal forte, com chuva, granizo e trovoada, como bem ilustra a foto seguinte tirada em Kansas City, em 2011, pouco antes de um temporal forte.
    Explicação física: o tom verde mostra que o espalhamento está a ser provocado por gelo presente nas nuvens.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

PORQUE É QUE O CÉU É... NEGRO?

Em que situações o Céu que vemos aparenta ser negro? Obviamente, quando é de noite. E no Espaço também, independentemente das horas que os nossos relógios terrestres indiquem. Vamos por partes...

Porque é que o Céu que vemos à noite é negro?

Para responder a esta pergunta, apresento os seguintes argumentos:
  • Como já vimos em posts anteriores, a luz branca é o somatório de todas as cores da faixa visível do espetro eletromagnético;
  • O Céu é azul porque as partículas da atmosfera dispersam e espalham com mais facilidade a componente azul da luz;
  • Quando o Sol está no horizonte, o Céu aparenta ser avermelhado, laranja e rosa, porque a camada atmosférica que a luz tem de ultrapassar é mais espessa.
O que há aqui em comum? A luz.
Resposta simples à pergunta inicial: o Céu é negro à noite devido à ausência de luz. Tal e qual como um quarto escuro, sem luz, vemos negro.
Mas há uma questão importante... é que ao referir-me a "ausência de luz", refiro-me apenas a "ausência de luz do Sol". As outras Estrelas são visíveis porque a luz do Sol não as ofusca à noite, porque o Sol está demasiado ocupado a iluminar a outra metade do Mundo...


E este é um excelente ponto de partida para outra questão.

Porque é que o Céu que vemos no Espaço é sempre negro?

Algumas pessoas, onde me incluo, encaram a Astronomia como uma mistura de Física e de Poesia. Mas sejamos claros numa coisa. O Espaço é basicamente uma imensidão de vazio. No espaço entre as Estrelas, os Planetas, os Cometas, os Asteroides e outros Corpos Celestes, não há nada além de vácuo. É um imenso Nada.
E isso está relacionado com este post num ponto muito simples. É que não havendo nada, a luz não encontra obstáculos à sua propagação e, como vimos em posts anteriores, sem obstáculos não se espalha. Não há dispersão. Independentemente das horas que os nossos relógios "locais" marquem, no Espaço tudo é escuro exceto as fontes de luz e as suas reflexões, como no caso dos Planetas, que não emitem luz mas que a refletem.
Acima da atmosfera, o Céu é sempre negro, porque a luz que ele emite não sofre dispersão.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

PORQUE É QUE O CÉU É... VERMELHO?

Ok, duas ressalvas...
  1. Isto só acontece ao por do sol e ao nascer do sol;
  2. Por "vermelho", entenda-se "tons avermelhados".
Obviamente, este post vem na sequência dos últimos que fiz, sobre as cores que o Céu pode tomar.

O princípio que leva a luz do Sol parecer vermelha quando este está muito próximo do horizonte é o mesmo que faz a cor do Céu parecer azul durante um dia bonito. A Dispersão de Rayleigh (ver "Porque é que o Céu é... Azul?") faz-se sentir sempre, independentemente da hora do dia. A composição da luz não muda, o que muda é a espessura da camada atmosférica que esta tem de passar até atingir os nossos olhos.

Com o Sol tão "baixo", a camada atmosférica que a luz atravessa é superior. A luz sofre espalhamento (ou dispersão) durante mais tempo. Como a quantidade de luz que nos chega diretamente é consideravelmente inferior, o Sol parece-nos menos brilhante. É por isso que conseguimos ter uns momentos românticos a olhar para o por do sol...


E porque é que nos chega menos luz diretamente?
Retornemos ao post em que iniciei este tema, em que faço uma explicação sumária do que é o espetro da luz visível. Está lá uma imagem que mostra "os verdes e os azuis" num extremo da figura e "os vermelhos" do outro. Os verdes e os azuis têm elevada frequência e baixo comprimento de onda, e os vermelhos têm baixa frequência e elevado comprimento de onda. Isto quer dizer que os verdes e os azuis serão refletidos mais frequentemente porque "facilmente" encontrarão na atmosfera obstáculos à sua propagação. A componente vermelha da luz passará porque o seu comprimento de onda é superior e "contorna" esses obstáculos.
Uma vez que a atmosfera aparenta ser mais espessa quando a fonte emissora está no horizonte, os azuis e os verdes encontram muitos obstáculos. Essas componentes da cor não chegam diretamente até nós, ao contrário do vermelho.

Uma outra nota muito interessante.
Muitos de nós já repararam que há dias em que o Céu aparenta ser mais alaranjado ou ter tons mais a pender para o rosa, comparativamente ao normal. Isso acontece quando o Céu tem mais poeiras ou vapor de água. Estas partículas espalham a cor mais facilmente, os azuis e os verdes ficam ainda mais "bloqueados" da nossa vista, e conseguimos ver uma maior variedade dos mais longos comprimentos de onda.


No próximo post vou manter-me neste tema.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

PORQUE É QUE O CÉU É... AZUL?

Na sequência do meu último post...

Já sabemos que o Céu pode tomar várias cores.
Já sabemos que a composição da atmosfera e da luz estão na base dessa variedade.
Ok, mas porquê?

A luz que recebemos da Terra vem, quase exclusivamente, do Sol. É certo que existe uma infinidade de outras Estrelas visíveis à noite, mas a luz que dela nos chega, mesmo que algumas sejam incomparavelmente maiores que o Sol, é ínfima e não entra sequer nas contas. O Sol ofusca-as durante o dia e só durante a noite elas têm hipótese de dizer "olá" à Terra.


Voltando à luz do Sol... A luz viaja do Sol até nós durante 8 minutos em espaço livre, sem que nada a perturbe na sua longa (mas rápida) viagem até nós. De repente, entra na atmosfera terrestre que, como já referi no post anterior, contém partículas.
Dependendo do seu comprimento de onda e do tamanho da partícula em que colide, a onda de luz poderá ou não prosseguir o seu caminho.

Poeiras e gotas de água são sempre maiores que o comprimento de onda de qualquer cor pertencente ao espetro visível. Por isso, todas as cores serão refletidas (basicamente como um jogo de pinball) da mesma maneira e a luz que vemos é branca (vemos o branco como o somatório de todas as cores).

Mas as moléculas dos gases são mais pequenas que o comprimento de onda da luz visível e aí a história é outra. Quando um raio de luz atinge uma molécula é parcialmente absorvida pela molécula e radiada (libertada) numa direção diferente. Ainda que todas as cores sejam absorvidas e afetadas da mesma maneira, a frequência com que tal acontece com os azuis (frequências altas, baixo comprimento de onda) é muito maior.
Este processo chama-se Espalhamento (ou Dispersão) de Rayleigh (ou, em inglês, "Rayleigh scattering" para quem estiver interessado em pesquisar em literatura estrangeira).

É por isto que o Céu é azul. Os comprimentos de onda maiores passam diretamente pela atmosfera sem serem fortemente afetados, ao passo que a cor azul sofre este fenómeno. Seja qual for a zona do Céu para onde olhemos, o azul está presente por sofrer este efeito, mais que as outras cores que compõem a luz.

Contudo, se olharmos para o horizonte, veremos uma luz mais pálida. Azul, mas mais pálida...


Isso acontece porque a camada de atmosfera que a luz tem de passar até chegar aos nossos olhos é superior. Com tantas reflexões sucessivas nas pequenas moléculas de gás, parte da luz azul acaba por ser afastada, e isso faz com que menos luz azul consiga ultrapassar a camada atmosférica que envolve a Terra.

Continuo no próximo post a falar sobre as cores do Céu.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PORQUE É QUE O CÉU É...?

Começo hoje uma série de posts sobre os porquês das cores que podemos ver no Céu.
Desde o azul do céu de um belo dia de verão ao vermelho intenso de um por-do-sol, passando pelo branco da luz do sol ao breu da noite, o Céu que temos sobre as nossas cabeças toma várias tonalidades. Que todas elas são belas já nós sabemos, mas é preciso mais que simples poder de observação para perceber o motivo de tal variedade acontecer.


É preciso compreender duas coisas básicas:
  1. A composição da atmosfera da Terra;
  2. A composição da luz.
A atmosfera é uma mistura de vários componentes, de composições diferentes, bem como de água, que se pode apresentar na forma de vapor, gotas ou pequenos cristais de gelo. Além disso, podem existir partículas sólidas como poeiras, cinzas ou sais vindos dos oceanos.
A composição da atmosfera varia dependendo da latitude ou do clima, por exemplo.
É, também, mais densa junto à superfície, tornando-se mais fina à medida que a altitude aumenta.

A luz é uma forma de energia que se propaga em ondas eletromagnéticas. A luz visível, tal como a vemos, é uma pequena faixa do espetro eletromagnético. A luz é definida em termos de frequência e comprimento de onda, sendo estas grandezas inversamente proporcionais.
Vemos cores desde o violeta (alta frequência, baixo comprimento de onda) ao vermelho (baixa frequência, elevado comprimento de onda). Frequências mais elevadas que o violeta são o ultravioleta (UV) e mais baixas que o vermelho são o infravermelho (IV). Em baixo está uma imagem que ilustra o que acabei de escrever.


Resumindo, a luz branca é a mistura destas 7 cores. Querem uma prova? Vejam, então, as cores do arco-íris...


Continuo no próximo post a falar das cores do Céu...

domingo, 14 de outubro de 2012

DE VOLTA...

A Vida é assim, cheia de momentos que nos impedem de fazer coisas de que gostamos muito. Tenho andado assim, no que respeita à Astronomia. Quero ver se volto e se vou recuperando outra vez as minhas coisas essenciais, a minha Vida, o meu controlo sobre o tempo...

E que dia poderia eu escolher melhor que o dia em que vi Orion no Céu pela primeira vez em horas normais? Que constelação linda, imperial... Todas as suas Estrelas são ali colocadas em harmonia. 
Todas as Estrelas são harmonia. Todo o Céu Noturno é harmonia.
Se eu mandasse, proporia as Estrelas para Património Mundial. E os Planetas também. Mundial não, Universal. Proporcionam um espetáculo fabuloso de simplicidade, beleza e poder.

Há tantos Mundos além do nosso, tantos Mundos além dos que nós vemos... Isto não vos faz pensar? Não vos faz pensar que, naqueles pontos de luz ali à distância de um olhar, possa haver quem fique a pensar no mesmo?
Não me sinto sozinho no Universo. Sei que há alguém por aí. Alguém que olha para o Céu com um telescópio e vê o Sol, alguém que descobre um ponto azul claro a orbitar o Sol...

O Céu é lindo. Assim gostemos de investir tempo a contemplá-lo.
O Céu é misterioso. Assim gostemos de pensar nos mistérios que ele encerra.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PERSEIDAS

Este fim de semana, mais concretamente entre os dias 11 e 13 de agosto, será visível uma "chuva de estrelas". Cientificamente, são meteoros em contacto com a atmosfera, mas o fenómeno é conhecido como "chuva de estrelas"...
Faço na próxima semana uma explicação sobre o que são as Perseidas.
Com este post pretendo apenas alertar para o fenómeno. O pico será no dia 12, pouco antes do amanhecer (em Portugal), e o radiante desta "chuva" será um pouco "acima" (maior elevação) da Lua, Vénus e Júpiter, os pontos mais brilhantes do Céu.


sábado, 4 de agosto de 2012

TRÂNSITO DE VÉNUS - 4

Hoje coloco algumas fotos sobre o trânsito de Vénus de há cerca de 2 meses.
Procurei algumas fotos "não astronómicas", mas antes que pudessem mostrar a relação íntima do nosso dia a dia com a Astronomia.
Acho que consegui.
Deixo-vos deliciarem-se com estas imagens estupendas.
Sugiro que cliquem nas fotos para apreciar melhor a sua beleza.













quarta-feira, 27 de junho de 2012

TRÂNSITO DE VÉNUS - 3

Como prometido, um post só com fotos do trânsito de Vénus...
Estas primeiras são tiradas da emissão em direto da NASA.
A cor do Sol parece variar porque são aplicados vários filtros ao telescópio, o que faz com que a cor chegue alterada aos nossos olhos.
Repare que na 4ª foto a deslocação de Vénus é já evidente. Na mesma foto, repare no flare do Sol, mesmo na parte de baixo.

Clique na foto se quiser ver melhor.





E que tal esta foto com um filtro na zona extrema UV do espetro?


Mais duas fotos fabulosas:




Vou tentar recolher mais algumas para colocar aqui.
Acho que vale bem a pena...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

TRÂNSITO DE VÉNUS - 2

Ainda sobre o trânsito de Vénus ocorrido este mês...
Já no outro post deixei a resposta a algumas questões que podem surgir, talvez as mais pertinentes. Hoje não vou investir muito mais tempo nessas coisas acessórias e vou passar diretamente às fotos, mas antes deixo a resposta a algo que me perguntaram no outro dia:

NOS PLANETAS, SÓ HÁ TRÂNSITOS DE VÉNUS?

Não!
Cada Planeta só pode ver trânsitos dos Planetas mais interiores relativamente ao Sol.
Por exemplo, recordemos por ordem de proximidade ao Sol os 4 primeiros Planetas do Sistema Solar:
  1. Mercúrio
  2. Vénus
  3. Terra
  4. Marte
Isto quer dizer que estando na superfície de Mercúrio e olhando para o Sol, NUNCA vamos ver o trânsito de um Planeta.
Também quer dizer que um venusiano só poderia ver um trânsito de Mercúrio, na Terra só é possível ver trânsitos de Mercúrio e Vénus, e que um habitante de Marte poderá ver trânsitos dos outros 3 Planetas interiores.

Por exemplo, foram feitos cálculos e a própria Terra proporcionará um trânsito visível de Marte em 2084. Por outras palavras, Sol, Terra e Marte vão ficar alinhados nesse ano e irá acontecer uma ocultação. Tal como disse no último post, será um eclipsezinho... Pode ser que na altura já haja missões tripuladas a Marte e na altura algum ser humano tenha a visão privilegiada (ou não...) de ver a sua casa passar em frente ao Sol, a uns irrisórios 55 milhões de quilómetros de distância...


Divagações à parte, convém também perceber outra coisa.
Se os Planetas demoram um ano "dos seus" a dar uma volta ao Sol (pouco mais de 365 dias na Terra, 243 em Vénus), não seria natural esses trânsitos serem frequentes?
Não, porque tudo depende da inclinação da órbita dos Planetas na sua translação em torno do Sol. A Linha de Eclítica é uma linha imaginária que todos os Planetas descrevem no seu trajeto, mas na realidade existem algumas diferenças. Vénus tem uma inclinação orbital de 3,39º relativamente à Terra, o que faz com que os seus trânsitos sejam bastante raros. A inclinação das órbitas faz com que estas não assentem num mesmo plano e com isso tornem estes alinhamentos mais raros.

Explico melhor o conceito de Linha de Eclítica em:

e

Acabei por falar demais, outra vez.
É fácil perdermo-nos quando falamos de temas de que gostamos.
Assim sendo, dedico o próximo post exclusivamente às imagens do trânsito de Vénus.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

TRÂNSITO DE VÉNUS - 1

Na semana passada, alguma imprensa noticiou o trânsito de Vénus, mas todos os órgãos de comunicação social foram parcos em explicações sobre o fenómeno. O que pretendo agora é deixar uma imagem diferente do que realmente aconteceu no céu nos dias 5 e 6 de junho, para que fique bem claro para todos que tipo de acontecimento foi, e as suas particularidades.
Para muitos isto não tem piada nenhuma, outros como eu ficarão verdadeiramente entusiasmados. No meio, está a esmagadora maioria das pessoas, para quem saber um pouco mais é uma questão de curiosidade.
Não vou fazer mais do que 2 ou 3 posts sobre este tema.

Indo por partes...

O QUE É UM TRÂNSITO?

Em linguagem de amigos, é quando um corpo mais pequeno passa em frente a outro de maiores dimensões e mais brilhante, segundo o nosso campo visual. Para ajudar a compreensão, é um eclipse em ponto pequeno.
Vejamos exemplos.
  • Se a ISS (Estação Espacial Internacional) passar em frente à Lua, isso é um trânsito;

  • Se Ganimedes (Lua de Júpiter) passar em frente a Júpiter, isso é um trânsito;

  • Se Vénus passar em frente ao Sol, isso é um trânsito...

Há imagens bem mais espetaculares que esta do trânsito de Vénus, mas deixo-as para depois.
Quis agora, apenas, ilustrar o que é um trânsito.

Em linguagem um pouquinho mais técnica, um trânsito ocorre quando a órbita de um corpo provoca um alinhamento com outros dois, de tal forma que um dos corpos fica "ocultado" pela sua presença.
Ou seja, quem está na Terra e olha para o Sol, assiste a um trânsito de Vénus quando este passa pela frente do disco solar.
Esta imagem retirada da internet esclarece:


É SEGURO ASSISTIR A UM TRÂNSITO?

Sim, exceto quando envolve o Sol. Nesse caso, é imperioso que se utilizem filtros para telescópios e que não se olhe diretamente para o Sol sem proteção. Pode cegar.

COM QUE FREQUÊNCIA OCORREM OS TRÂNSITOS?

Depende de que trânsito estivermos a falar. Os trânsitos são previsíveis e existem ferramentas para os calcular.
Sabemos que os trânsitos de Vénus ocorrem "aos pares", espaçados de cerca de 105 anos. Ou seja, os últimos aconteceram em 2004 e 2012, e agora só voltam a acontecer em 2117 e 2125.
Por isso, a resposta à pergunta "Quando posso voltar a ver um trânsito de Vénus?" é "Em condições normais, nunca!".

Vejamos a lista dos trânsitos de Vénus desde 1601, divulgados pela NASA:


O TRÂNSITO DE VÉNUS FOI VISÍVEL EM TODO O MUNDO?

Infelizmente não!
E Portugal e a maior parte do território brasileiro (onde este blogue é muito lido) ficaram de fora dos locais privilegiados.
Este mapa retirado do site da NASA é explicativo. Clique na imagem para ver melhor.


Para percebermos o motivo de não ser visível em todo o lado, basta pensar na rotação da Terra e no dia e na noite. Quando é noite em nossa casa, é dia nos nossos antípodas, do outro lado do mundo. Logo, não vemos o Sol porque olhar para o Céu significa estar a olhar "na direção oposta"...
Quando começamos a poder observar o Sol por a Terra já ter rodado sobre si mesma o suficiente, já o trânsito pode estar a acabar porque Vénus já saiu da frente do disco solar. Foi exatamente isso que aconteceu em Portugal.
Acompanhei a emissão em direto no site da NASA de madrugada. Quando ficou dia cá em Portugal, já o trânsito tinha chegado ao fim.

Continuo no próximo post.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

CALENDÁRIO CÓSMICO - 7

Este post pretende ser apenas a súmula da minha visão pessoal deste calendário cósmico.
Relembro aquilo que sempre disse ao longo desta série de 7 posts: ao criar este calendário, Carl Sagan quis apresentar uma visão diferente da evolução do Universo, da Terra, da Vida e do próprio Homem. As conclusões, cada um tira as que quiser...

Parece-me claro que durante muito tempo após o Big Bang não se passou nada de "relevante" no que toca à evolução da Vida.
E quando finalmente ela surgiu, não nos deu prioridade. Antes de nós, plantas e animais povoaram a Terra e fizeram dela a sua casa. Só depois surgiu o Homem, com a inexplicável mentalidade de que tudo foi feito para seu uso exclusivo. Não foi.

O que me parece que salta à vista após a análise que fiz, é a evolução absolutamente brutal que o Homem tem feito recentemente. A Ciência e a Tecnologia vieram para ficar. Somos agora uma sociedade dependente dos progressos científicos que nós, enquanto espécie, vamos efetuando.
Mas importa reter que esses progressos funcionam de acordo com as mentes que os criam e das que os utilizam. Com isto, quero dizer que podem servir para melhorar as nossas condições de vida, sem dúvida alguma, mas também podem servir para nos autodestruirmos. Literalmente.
Ganhámos a capacidade de fazer a nós mesmos aquilo que fizemos a outras espécies, ao longo da nossa evolução: exterminá-las.

Vivemos num Planeta pequeno mas privilegiado. Na vastidão do Espaço, não existirão tantos oásis assim como aquele onde estamos, embora a procura por planetas extrassolares (habitáveis) esteja agora a dar os seus primeiros passos.

Não estamos demasiado perto nem demasiado longe da nossa Estrela, o que permite que não tenhamos um Planeta demasiado quente nem demasiado frio, que possamos ter uma razoável atmosfera e que esta nos forneça a proteção que precisamos e o ar que respiramos...
Porque não aproveitamos?

Vivemos num Planeta onde a Vida floresce e onde já florescia muito antes de nós, Homens, aparecermos.
Porque não a respeitamos?

Vivemos num Planeta onde o equilíbrio do ecossistema depende da convivência entre Homens, animais e plantas.
Porque não partilhamos?

Vivemos num Planeta com uma história rica, cheia de detalhes deliciosos.
Porque não a cultivamos?

Contudo, a pergunta que fica por responder parece-me a mais importante de todas.
A resposta fica com cada um que ler este post e/ou tiver acompanhado os meus últimos 7 textos, para que cada um possa fazer a sua parte...

Vivemos num Planeta com condições fabulosas para a Vida!
Porque não o preservamos?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

CALENDÁRIO CÓSMICO - 6

Deixei para o fim os últimos 10 segundos deste calendário cósmico.
Ou seja, na nossa escala de tempo habitual, os últimos 4750 anos. Usando a comparação que uso sempre, 4750 anos parecem muito tempo, mas representam 10 segundos no espaço de um ano... aliás, como Carl Sagan também refere, toda a história registada e documentada cabe neste espaço de tempo, que nos parece enorme e longínquo, mas ridiculamente insignificante à escala universal.

E o que marcou a Humanidade entretanto?
  • 23h59m51: invenção do alfabeto. Império Acadiano
  • 23h59m52: códigos de Hamurabi na Babilónia. Médio Império no Egito
Faço aqui a primeira interrupção. Como podemos ver, o alfabeto é algo muito recente.
É a primeira forma de perpetuação escrita do conhecimento, uma forma de memória extrassomática.
Isso permitiu o aparecimento de novos conceitos até então impensáveis, como os códigos de Hamurabi. Não sendo o primeiro conjunto de leis publicadas, é um dos mais representativos, até porque encarna a mentalidade das pessoas na época. Vejamos um exemplo:

Art. 25 $ 227 - "Se um construtor edificou uma casa para um Awilum, mas não reforçou seu trabalho, e a casa que construiu caiu e causou a morte ao dono da casa, esse construtor será morto".

Os códigos foram esculpidos num monólito, em que as 282 leis (a 13ª foi eliminada por motivos supersticiosos) foram escritas em 46 colunas e 3600 linhas.

  • 23h59m53: metalurgia do bronze. Cultura micénica. Guerra de Tróia. Civilização olmeca. Invenção do compasso
  • 23h59m54: metalurgia do ferro. Primeiro Império Assírio. Reino de Israel. Fundação de Cartago pelos Fenícios
  • 23h59m55: Índia de Ashoka. Dinastia Ch'in na China. Atenas de Péricles. Nascimento de Buda
  • 23h59m56: geometria euclidiana. Física de Arquimedes. Astronomia ptolomaica. Império Romano. Nascimento de Cristo
Interrupção obrigatória.
Primeiro, porque só agora surgem os primeiros passos reais na evolução da Física e da Matemática, tal como as conhecemos.
Segundo, porque só agora a Humanidade contacta a experiência religiosa Cristã. Já existiam outras religiões, cultos e crenças, mas o Catolicismo só agora surge.
Não pretendo iniciar ou manter aqui uma conversa sobre religiosidade, porque isso é demasiado pessoal, só cada um sabe como sente a (sua) religião. Sou Católico Praticante, mas reconheço que a questão de Cristo só ter nascido há cerca de 2000 anos quando o Universo é incomparavelmente mais velho é algo que a Igreja terá de considerar pertinente.
  • 23h59m57: zero e decimais inventados pela aritmética indiana. Queda de Roma. Conquistas muçulmanas
Aqui, uma pequena nota: o algarismo "0" é estupidamente recente. Tem pouco mais de mil anos...
  • 23h59m58: civilização maia. Dinastia Sung, na China. Império bizantino. Invasão mongol. Cruzadas
  • 23h59m59: renascimento na Europa. Descobrimentos pelos europeus e pela dinastia Ming, da China. aparecimento do método experimental na ciência
  • Momento atual - primeiro segundo do 2º Ano Cósmico: desenvolvimento generalizado da ciência e da tecnologia. Aparecimento de uma cultura global. Aquisição dos meios de autodestruição da espécie humana. Primeiros passos na exploração planetária com engenhos espaciais e busca de uma inteligência extraterrestre
E chegamos ao "agora"...
A Ciência desenvolveu-se ao ponto de se tornar incontornável.

Mas isso entra no tema do meu próximo post sobre este assunto, que será o último.
Irei fazer a minha reflexão pessoal sobre tudo aquilo que escrevi ao longo das últimas semanas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

CALENDÁRIO CÓSMICO - 5

Tenho vindo a falar do Calendário Cósmico apresentado por Carl Sagan, que é uma forma de ver o tempo a uma escala mais compreensível ao Homem comum. Recomendo a leitura dos anteriores 4 posts para quem ainda não leu, antes de ler este.

E é precisamente no Homem que é centrado o post de hoje, ou não fossem os tempos recentes os tempos do reinado do Homem, com tudo o que isso acarreta de bom e de mau. Falo das conquistas, da evolução humana e dos progressos (?) entretanto atingidos.

O dia 31 de dezembro do calendário cósmico resume os últimos 41 milhões de anos de História da Terra. Parece muito tempo, mas lá está... a Astronomia é uma Ciência de escalas, e se compararmos estes 41 milhões de anos com os 15 mil milhões que decorreram desde o Big Bang, vemos que 41 milhões são menos que 0,3%. Elucidativo? Eu acho...

Antes de descrever os acontecimentos recentes deste dia 31, convém recordar que aqui, cada segundo equivale a 475 anos reais.
Vejamos:
  • 13h30: origem do Proconsul e do Ramapithecus, prováveis antecessores dos homens e dos macacos
  • 22h30: primeiros seres humanos
  • 23h00: utilização generalizada dos utensílios de pedra
  • 23h46: domínio do fogo pelo homem de Pequim
Convém explicar que o Proconsul e o Ramapithecus são anteriores ainda aos primatas, que todos conhecemos como os nossos antepassados. Ainda não tinham exatamente formato de primata, mas a morfologia do seu corpo era já disso indicadora.
Destaco ainda o facto de o domínio dos utensílios de pedra e da descoberta do fogo terem decorrido numa fase tão avançada deste calendário.
Basta analisar este facto: considerando um ano desde o "início dos tempos", só a 14 minutos do fim do ano o Homem descobre o fogo...
  • 23h56: início do período glaciário mais recente
  • 23h58: navegadores colonizam a Austrália
  • 23h59: pinturas rupestres por toda a Europa
Entramos no "último minuto cósmico", e só agora o Homem começa a deixar um legado escrito para os seus descendentes. Ainda assim, a evolução do desenho não chegou a mim...


Daqui para a frente, a evolução e os factos sucedem-se de tal forma que é necessário fazer a análise "ao segundo".
  • 23h59m20: invenção da agricultura
  • 23h59m35: civilização neolítica. Primeiras cidades
  • 23h59m50: primeiras dinastias na Suméria, em Ebla e no Egito. Desenvolvimento da Astronomia
A Astronomia apareceu muito recentemente, por este ponto de vista, mas por outro lado, que outra Ciência é mais antiga? As primeiras observações do Céu "com olhos de ver" foram efetuadas há menos de 5000 anos. Seria uma Astronomia extremamente rudimentar, puramente observacional e sem qualquer conhecimento do que de facto se passa "lá em cima".

Contudo, o reconhecimento da época do ano em que certas Constelações e Estrelas apareciam no Céu ia ajudando a agricultura. Por exemplo, no Egito sabia-se que quando Sírio (do Grego Seirios, que significa "brilhante", Alfa Canis Majoris ou Estrela do Cão para os amigos), a Estrela mais brilhante do hemisfério Norte, aparecia no horizonte a Nascente, logo atrás de Orion, era a altura ideal para renovar culturas e plantações, pois antecedia a inundação anual do Nilo e o Solstício de Verão. Os egípcios sabiam que Sírio surgiria ao nascer do Sol após estar ausente do Céu durante 70 dias, o que revela uma extraordinária capacidade de observação e previsão.
Pessoalmente, acho que é essa uma das caraterísticas da Astronomia, o poder de previsão que quase sempre se aplica... e também é isso que me fascina.

Continuo no próximo post, com o tema da evolução do Homem nestes 10 segundos que faltam...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

CALENDÁRIO CÓSMICO - 4

Continuando no tema dos últimos posts, a compressão da idade do Universo para caber num único ano...
Recordo que o objetivo desta análise é o de dar uma melhor perspetiva da evolução da Vida e do Universo, comparando distâncias temporais relativas.

No último post, estive a analisar aproximadamente meio do mês de dezembro. Trato hoje de analisar a outra metade, deixando os detalhes do dia 31 para outro dia.

O que diz o calendário cósmico de Carl Sagan?
  • Dia 20: período silúrico. Primeiras plantas vasculares. As plantas começam a colonização da Terra
  • Dia 21: período devónico. Primeiros insetos. Os animais começam a colonização da Terra
Faço aqui o meu primeiro comentário deste post.
O silúrico foi um período que terminou há 416 milhões de anos. Nesta altura já havia plantas E NÃO HAVIA HOMENS. O Planeta estava povoado de uma planta chamada Cooksonia (que a seguir mostro numa reconstituição) e NÃO HAVIA UM ÚNICO HOMEM.


O devónico sucedeu ao silúrico e terminou há 359 milhões de anos. Nesta altura já havia animais E NÃO HAVIA HOMENS. A Terra ainda tinha apenas 3 continentes, pois a Pangeia (continente único que, ao dividir-se, formou os que agora conhecemos) ainda estava em fase de formação, e já havia tubarões primitivos no topo da cadeia alimentar. NÃO HAVIA UM ÚNICO HOMEM.

Mais uma vez eu digo: com que moral achamos que o Planeta é nosso, quando foram os animais e as plantas que nos receberam na casa que já era deles?

Continuando:
  • Dia 22: primeiros anfíbios. Primeiros insetos alados
  • Dia 23: período carbonífero. Primeiras árvores. Primeiros répteis
  • Dia 24: início do período pérmico. Primeiros dinossauros
  • Dia 25: fim da era paleozoica. Início da era mesozoica
Ok, estamos no "dia de Natal cósmico". Não interrompo aqui para dar um presente a ninguém.
Por esta altura, há 245 milhões de anos (ou há 6 dias, dependendo da visão de cada um...), ainda não tínhamos continentes formados. Houve uma extinção em massa em cerca de 95% da vida na Terra, por causas não conhecidas. Há quem afirme que foi devido a alterações climáticas bruscas, há quem afirme que foi devido a um meteoro que colidiu com a Terra. De qualquer das formas, as trilobites, de que falei no post anterior, desapareceram na chamada Extinção Permo-Triássica, bem como muitas outras espécies.
  • Dia 26: período triássico. Primeiros mamíferos
  • Dia 27: período jurássico. Primeiras aves
  • Dia 28: período cretácico. Primeiras flores. Extinção dos dinossauros
É possível que alguns dinossauros tenham tido a bênção de ver a beleza das flores, mas muitos não devem ter existido a tempo de as contemplar.


Pensemos agora de outra forma. Os dinossauros extinguiram-se há 65 milhões de anos, muito provavelmente devido ao impacto de um meteoro com a Terra (na zona do México), que provocou efeitos cataclísmicos de tal ordem violentos, que grande parte da Vida foi varrida da Terra. Mas voltando aos 65 milhões. Parece muito tempo, e é muito tempo. Mas na história do Universo não representa nem 1% que decorreu entretanto...
Vistas as coisas deste ponto de vista, os dinossauros não foram nossos contemporâneos, é certo, mas faltou pouco!
  • Dia 29: fim da era mesozoica. Início da era cenozoica e do período terciário. Primeiros cetáceos. Primeiros primatas.
Só agora surgem os nossos antepassados primatas...
  • Dia 30: princípio da evolução dos lobos frontais nos cérebros dos primatas. Primeiros hominídeos. Mamíferos gigantes
Só agora (ontem?) se começa a desenvolver o cérebro com a forma que hoje conhecemos e temos.
Mas é preciso lembrar que hominídeos não significa homens. Os hominídeos eram o "Homem primordial" e a evolução deu-se por vários estágios, um dos quais o Australopithecus Africanus, que mostro em representação a seguir.


A forma dos nossos antepassados ainda faz lembrar muito mais um primata do que um Homem (ainda que haja homens muito parecidos com primatas, principalmente no comportamento...).
Estes australopitecos foram primeiro detetados na África do Sul (daí o prefixo australo, que indica "sul"), mas recentemente foram descobertos fosseis no Chade.

Mas, é claro, o Homem tem de surgir, até porque já não falta muito tempo no calendário cósmico...
  • Dia 31: fim do período pliocénico. Período quaternário (plistocénico e holocénico). Primeiros seres humanos
O ser humano desenvolve-se maioritariamente no plistocénico, a par com os mamutes e os tigres dente-de-sabre, por exemplo. Este período teve início há 1 milhão e 806 mil anos e terminou há cerca de 11500 anos, o que nos permite visualizar melhor a escala de tempo.
O holocénico é o nosso tempo atual, que começou com a última era glaciar (Idade do Gelo).

Penso que este é um bom momento para terminar este post.
No próximo, irei entrar nos detalhes do último dia do ano cósmico.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

CALENDÁRIO CÓSMICO - 3

Na senda dos 2 últimos posts, continuo na descrição do calendário cósmico de Carl Sagan.
Se, eventualmente, este é o primeiro post da "saga" que lê, recordo que o objetivo é comprimir todo o tempo decorrido desde o Big Bang até hoje no espaço de um ano, para que assim se possa ter uma melhor perspetiva da evolução do Universo e da Vida. Neste caso, remeto o leitor para os 2 últimos posts antes de ler este, para que o encadeamento seja muito mais lógico.

Se, por outro lado, acompanhou o que já escrevi sobre este tema, hoje falo de aproximadamente uma quinzena do mês de dezembro.
  • Dia 1: começa a desenvolver-se na Terra uma atmosfera de oxigénio significativa
  • Dia 5: vulcanismo intenso e formação de canais em Marte
Talvez tenha sido por esta altura (há uns incríveis 1000 milhões de anos ou há uns meros 24 dias atrás, dependendo da perspetiva - pessoalmente, prefiro a última...) que se formaram duas formações do mais incrível que podemos ter em Marte e no Sistema Solar: o Olympus Mons e os Valles Marineris.



Não vou entrar em detalhes sobre qualquer destas formações, mas digo apenas que o Monte Olimpo é o maior vulcão conhecido do Sistema Solar e tem uma altitude de cerca 26 km (a proporção "o triplo do Everest" ajuda a dar uma ideia...). Quanto aos Valles Marineris (Latim para Mariner Valleys, pois foi a sonda Mariner 9 que o descobriu), que são o Grand Canyon lá do sítio, ainda que ele caiba bem lá dentro, tem cerca de 20 000 km de comprimento e atinge uma profundidade de 7 km.

Atravessamos depois uns "dias" em que nada de verdadeiramente significativo acontece no Universo (que nos ajude a perceber o nosso lugar nele, atenção!). Mas depois a sucessão de marcos históricos é incrível. Vejamos:
  • Dia 16: primeiros vermes
  • Dia 17: fim do précâmbrico. Início da era paleozoica e do período câmbrico. Desenvolvimento dos invertebrados
Interrompo aqui para recordar um facto. Não só o Homem ainda não existe, tal como faço sempre questão de lembrar, como os animais mais complexos que existem são os invertebrados, que ainda estão em fase de desenvolvimento! E estamos a uns meros 15 dias do final deste "ano cósmico". Haverá, com certeza, quem prefira pensar que estes 15 dias representam 600 e tal milhões de anos, e que isso é muito tempo. Eu, que sempre fui mais racional, penso que só falta 4% do tempo que decorreu desde t=0 (Big Bang) até agora, e nós, Homens, ainda somos um projeto à espera de nascer.

Continuando:
  • Dia 18: primeiro plâncton oceânico. Desenvolvimento das trilobites
  • Dia 19: período ordovício. Primeiros peixes, primeiros invertebrados
Impõe-se explicar o que são trilobites. Em linguagem corrente, são bichos muito feios. Em linguagem científica, são artrópodes, como as aranhas, os gafanhotos ou as centopeias. Não têm um aspeto bonito para quem não gosta de os estudar... ou de ter um a passar perto, como eu. Talvez, terem sido os primeiros animais a surgir na Terra justifique, em parte, o facto de aproximadamente 84% das espécies animais conhecidas sejam artrópodes. As trilobites possuíam um exoesqueleto com muito carbonato de cálcio, o que permitiu que deixassem uma imensa quantidade de fósseis. Foram também os primeiros animais a desenvolver olhos complexos. Os primeiros olhos à face da Terra...

Continuo no próximo post a falar dos últimos dias deste dezembro.
O dia 31 será tratado depois.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CALENDÁRIO CÓSMICO - 2

Na sequência do post de há uns dias...

E se apertarmos, apertarmos, apertarmos os 15 mil milhões de anos que decorreram desde o Big Bang, o início da contagem do tempo (t=0), até hoje, por forma a que esses 15 mil milhões de anos tomem a forma de um único ano? Ficaremos com uma melhor perspetiva das coisas, porque a escala é-nos muito mais familiar. Essa é uma caraterística muito particular que distingue a Astronomia das outras Ciências: a escala. Mas sobre isso falo outro dia...

Voltando ao tema... o que se terá passado até ao "novo" dezembro, o deste "ano cósmico"?
Então vá, comecemos pelo óbvio, com mais duas datas de seguida:
  • 1 de janeiro: Big Bang
  • 1 de maio: origem da Via Látea
  • 9 de setembro: origem do Sistema Solar
Eh, pá... espera aí... já se passaram dois terços do ano e só agora começa a surgir o Sistema Solar?
Exatamente! (Sim, também fiquei surpreendido...)
Repare-se que, até aqui, a "única coisa" que aconteceu foi a acreção de matéria que andava "à deriva" após o Big Bang. A força gravítica foi fazendo com que se fossem formando as Galáxias e, mais tarde, os sistemas planetários, como o nosso, tal como representado em baixo.


Mais algumas "datas" significativas:
  • 14 de setembro: formação da Terra
  • 25 de setembro: origem da Vida na Terra
  • 2 de outubro: formação das rochas mais antigas que se conhecem na Terra
  • 9 de outubro: datas dos fósseis mais antigos (bactérias e algas azuis)
Entre a formação da Terra e o surgimento da Vida passaram cerca de 340 milhões de anos.
É muito?
É. À nossa escala...
O calendário cósmico revela que passaram apenas 9 dias, uma fração muito pequena do ano (de qualquer ano), desde que o nosso Planeta se formou até aparecer o primeiro microorganismo com vida.
Pode inferir-se daqui que somos uns verdadeiros privilegiados por habitar um Planeta com tão boas condições para o florescimento da Vida... mas que somos uns imbecis por destruir a Verdadeira Maravilha da Natureza: a própria Natureza! Mas isso são outras contas...

Mais uma data:
  • 1 de novembro: invenção do sexo pelos microorganismos
Não, não vou fazer piadas...
Mas aqui, mais que tudo, surge uma verdadeira evolução biológica. O sexo não pode deixar de ser considerado um salto de gigante na evolução da Vida.
E relembro: até aqui, nada de Homem. Zero! Está longe de aparecer! E não sei se já disse isto: ainda achamos que a Terra é nossa? NOSSA?

Continuando:
  • 12 de novembro: plantas fotossintéticas fósseis mais antigas
  • 15 de novembro: aparecimento das eucariotas
Sabem o que são as eucariotas? São as primeiras células com núcleo. Sem núcleo chamavam-se procariotas. Eram estruturas muito simples, sem núcleo nem órgãos internos, como as bactérias.
As eucariotas são bastante mais complexas, e além do núcleo surgem os CROMOSSOMAS.
Tão básicos eles são para a Vida tal como a conhecemos e, quando aparecem, já o Universo tem mais de 90% da sua idade atual... Deixo em baixo uma imagem que dá uma ideia do aumento de complexidade celular registado nesta altura.


Eu sei que já disse isto, mas o Homem ainda não apareceu, e já estamos a chegar a dezembro.

Nos próximos dias continuo...